No local determinado para a concentração das escolas participantes do tradicional Desfile Cívico de Araruama, minutos depois das 6 horas da manhã já se posicionavam componentes das primeiras Unidades de Ensino que deveriam desfilar. As suas Bandas Escolares envergavam uma admirável fibra, capaz de extrapolar os limites dos seus uniformes e instrumentos atingidos pela chuva, e de encantar os poucos observadores presentes.
Os jovens músicos estudantes ignoravam a presença constante da chuva fina, enquanto exibiam disciplina e comprometimento com o evento para o qual foram enviados. Cada um dos componentes dessas Fanfarras ocupava o lugar que lhe cabia, portando com dignidade e competência o seu instrumento musical. Compunham uma imagem marcante.
Na iminência do horário previsto para o início do desfile, os estudantes já posicionados para se apresentarem, bem como os seus responsáveis que os aplaudiriam, receberam a informação do cancelamento do evento, em função da chuva que insistia em fazer parte da manhã especial. A mesma chuva previamente anunciada e confirmada.
Alguns responsáveis, que optaram por não se identificarem, ressaltavam que a previsão de chuva foi amplamente divulgada desde a véspera, em mais de um meio de comunicação. Todos sabiam que enfrentariam um dia chuvoso, neste 7 de Setembro, mas compareceram para prestigiarem os seus filhos. Estavam munidos de guarda-chuvas, e com os celulares prontos a registrarem as imagens do belo desempenho que os seus jovens e crianças iriam apresentar.
Algumas das mães presentes consideravam revoltante o fato de que só muito tardiamente, e com os estudantes já bastante molhados, resolvessem divulgar o cancelamento do desfile. Elas afirmavam que este cancelamento da festa cívica deveria ter sido feito no dia seis de Setembro! Afinal, se aquele mal tempo era um elemento capaz de impedir a realização do evento, não havia justificativa para que os alunos e responsáveis fossem encaminhados ao local! A previsão do serviço de meteorologia havia alertado sobre a precipitação da chuva que então, naquela manhã, apenas se confirmava. Porém, o descontentamento materno foi amenizado por uma curta, mas belíssima apresentação das habilidades musicais dos seus filhos, nas Bandas Escolares que eles representam.
Antes da total dispersão das Fanfarras, o Colégio Araruama posicionou os membros da sua banda em frente à sua unidade de ensino. Esses alunos escolheram democraticamente manter-se, com os seus instrumentos, em irretocável formação ao longo das duas margens da rua por onde todas as outras bandas desfilariam, caso o evento fosse mantido. Então, um fato inusitado ganhou forma, tendo como palco o asfalto molhado, as cores dos uniformes envergados, a resiliência e positividade do povo brasileiro. Ressaltava-se, naquele ato, a grandiosidade dos nossos jovens, imponentemente perfilados nas laterais da rua ou fazendo os seus instrumentos soarem com brilhantismo, nos deslocamentos das suas Fanfarras.
Perfilada respeitosamente, em uma bela demonstração de civismo, empatia, valores democráticos, e consideração aos demais colegas de outras escolas, a Banda do Colégio Araruama prestigiou o “breve desfile”; enalteceu o pequeno deslocamento perfeito e ritmado dos outros alunos músicos, feito sob os acordes preciosos dos seus instrumentos; reconheceu e valorizou o esforço que também as outras fanfarras presentes realizaram, em respeito às pessoas presentes ao local.
Ainda que totalmente fora do programado, uma luminosa realidade se apresentou. Talvez, a chuvosa manhã de Sete de Setembro de 2025, em Araruama, tenha acabado por merecer a chancela de “inesquecível”, em função da grandeza do povo araruamense.


