Nesta quarta-feira, 18 de junho de 2025, o finalzinho da tarde, bem como o fluir da noite e a madrugada fria, emolduraram a tradicional arte da construção dos “Tapetes de Sal” que marcam as solenidades de Corpus Christi, em Araruama, Região dos Lagos, no Rio de Janeiro.
Ano após ano, essa vivência lindamente especial se desenvolve a céu aberto, sob os encantados olhares de quantos se dispuserem a percorrer as vias onde as efêmeras “obras de arte” são construídas, tendo como tela improvisada o asfalto, que orgulhosamente se transforma nessa ocasião. É possível apreciar cada uma das etapas; todos os detalhes e ações que conduzem ao surpreendente resultado final: o surgimento dos quadros que irão ornar o caminho a ser percorrido pela procissão.
Nos espaços previamente delimitados e reservados no asfalto, os diversos e numerosos grupos se ocupam de colorir o sal grosso, e fazer o chão dar lugar a maravilhosas obras da arte popular que vão ganhando forma, mediante a contribuição de muitas mãos abnegadas, motivadas e competentes, que fazem do sal colorido os “pincéis” a serem usados em suas produções. São grandes artistas anônimos, dedicados e empenhados em realizar o trabalho conjunto, até o surgimento da obra prima, lindamente concluída.
Alguns desses magníficos quadros estarão sendo produzidos ao longo da manhã da quinta-feira. Esses terão um tempo ainda mais curto para deslumbrarem os olhos dos entusiastas apreciadores dessa arte tão especial. Todas as obras são imprescindíveis para somar, com sua criatividade e beleza, em benefício da magnitude do conjunto. Para os retardatários na montagem das suas obras, o mesmo gostoso burburinho e o produtivo trabalho que se iniciou ao entardecer da quarta-feira, viu a noite cair, e invadiu a madrugada, só terminará ao longo da manhã de quinta-feira. Contudo, todas as produções serão admiradas em sua magnitude, antes que a procissão de Corpus Christi evolua na sua programada caminhada sobre elas.
A já esperada brevidade de cada uma, de todas as obras produzidas, não as tornam menos valiosas ou menos importantes. Elas são preciosidades que dispensam assinaturas, e se consagram no curtíssimo tempo que lhes é dado existir e encantar os apreciadores do belo, da arte. Elas tocam os corações das pessoas presentes a esse grande evento da fé católica, que é voltado à adoração do Santíssimo Sacramento.
Entre a multidão que se extasia ao contemplar a grandiosa beleza, sempre renovada, dos Tapetes de Sal de Araruama, nem todos os visitantes professam a mesma fé católica. Há também quem se declare apenas grande apreciador da arte revelada nos belíssimos “quadros” confeccionados com sal grosso colorido, na “tela” do asfalto araruamense. Há crianças, acompanhadas pelos responsáveis, que circulam observando, registrando imagens nos celulares, e afirmando que acham “tudo lindo demais!” A visitação é livremente democrática.
Registrar em fotos, filmagens, ou apenas na memória afetiva, a visão de tão irretocável beleza, é escolha pessoal de cada um dos felizes apreciadores dessa gratuita “exposição”. Contudo, faz-se importante observar o correr das horas porque, quando a noitinha se anunciar, a procissão seguirá pelos caminhos ornados pelas efêmeras telas magníficas que, assim, deixarão de existir; terão cumprido o seu importante papel. No próximo ano, obras similares haverão de pontuar o mesmo trajeto, reapresentando essa beleza que a todos cativa, conquista e contagia.